Barulho de Chuva

Dormiu tarde aquele dia, chovia como nunca, o barulho das gotas batendo nas telhas à acalmavam.Por isso, ao amanhecer decidiu ficar mas um tempo na cama.


Até escutou o bebê chorar, mas não deu importância, o sonho estava bom demais para ser interrompido. Tudo era tão bom quando dormia, que desejou dormir para sempre, o barulhinho da chuva ajudava para que o sonho ficasse realmente intenso.


Em seus sonhos não trabalhava em um emprego no qual ela sentia-se infeliz, não havia cobranças do marido, atenção exacerbada aos filhos, contas da escola, água, luz...Os sonhos eram realmente agradáveis, conseguia sentir o cheiro das flores, um barulho de rio, e o vento batendo em seu rosto...Estava em contacto com ela mesma,ninguém podia atrapalhar, não havia choro, nem guerra...


O barulho da chuva realmente dava um toque lúdico aquele momento, ficava cada vez mais dificíl querer levantar, o marido a chamou da escada três vezes.Mas ela, achou que os gritos faziam parte do sonho, não deu atenção e fechou os olhos novamente, tentando retornar de onde havia sido interrompida.


Entre os risos sorrisos e brincadeiras que compunham uma maravilhosa tarde, dividia com seu companheiro uma abraço e um beijo doce depois da mordida da maçã...Mas olhou para o céu, achou que iria chover também em seu sonho, mas, não fazia mal, aproveitaria para lavar a alma em um banho de chuva.Escutou ao longe uma voz e, logo começou a reconhecer, foi ficando cada vez mas próxima, até sentir alguém a sacudi-la;


-Levanta mulher, o mundo caindo ai fora e você dormindo?Vamos, acorde, seu filho chora de fome e o mundo desaba por causa da chuva...Como é que vou trabalhar-coçando a cabeça disse pra si mesmo-Levante, preciso de ajuda com as crianças.


Espreguiçou-se, levantou e abriu as cortinas, o mundo realmente desabava lá fora, na TV, nos jornais, só falava-se do n° de vitimas de soterramento, escutava se os berros das crianças quase presas em seus casebres, e os seus filhos gritavam "mamãe" a cada raio que dava na janela.


Agoniada, sentiu vontade de correr, mas se saísse dali, talvez ficasse ilhada ou se afogaria em qualquer canto da cidade, o marido falando, as pessoas sofrendo, a chuva caindo cada vez mas forte, destruindo casas, carros, vidas.Sentiu se impotente, mas o que poderia fazer para ajudar, um fenômeno natural, quem poderia lutar contra isso?Ela?ninguém é claro.Pelo menos em casa, sentia que estava segura.


Correu para o quarto e se jogou na cama, apertou os olhos para sonhar novamente, queria esquecer aquele dia pavoroso...Presa em casa, adormeceu e finalmente conseguiu sonhar, infelizmente, em seus sonhos também chovia, e a água inundava não só as ruas mas o seu ser, não lavava sua alma em um agradável banho de chuva, lavava as ruas do sangue que ficara em consequências de desabamentos...Acordou sem ar, com gosto de terra na boca, não sabia se era sonho ou realidade, só queria entender o que se passou enquanto esteve dormindo.

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