A espera de um milagre.


Estou á espera...
A espera de um milagre, me disseram que esperando, trabalhamos a paciência.
E dizem que a paciência é uma virtude.
Nunca fui virtuosa, nem paciente, nunca soube esperar. 
Mas agora vivo esperando, um tempo que não é meu, dizem, ser o tempo de Deus, eu espero, porque dizem que este tempo é sábio...
Estou a espera de uma ideia na cabeça,das palavras certas á serem escritas em um pedaço de papel.
A espera de sentimentos que neutralize a dor e cure as feridas da alma.
Estou a espera de pessoas com vontade de ajudar, pessoas boas que consigam enxergar outra coisa além do próprio nariz...
Vivo esperando que o mundo se torne mais justo, digno de se criar um filho, de se criar coragem pra continuar a seguir em frente...sempre.
A espera da paz , se não existir esta paz no mundo, que exista pelo menos paz interna, paz no coração...pra não gerar conflitos e confusão mental...
Estou á espera da verdade, de pessoas transparentes que não deixem dúvidas na palavra e dor no coração.
Estou á espera de um final feliz...estou á espera de um milagre que acontece quando conseguimos aguardar o tempo de Deus que é tão sábio...
Espero que ele exista, o tempo de Deus e o milagre...

Uma viagem pra fora de mim.



Não sei em qual momento da vida isto aconteceu, só sei que sai de mim...
Já faz tanto tempo, temo não conseguir mais voltar ao meu lugar, mesmo porque o "meu lugar" deixou de me pertencer no momento que deixei de ser eu mesma.Me abandonei sem previsão de volta.
É como se daqui, de fora de mim, pudesse me ver "ali" e me coloco em diversas situações das quais, "aquela" que vejo ali, não teria as mesmas ações das quais eu, de fora de mim ,tive, tenho, ainda vou ter.
Parece confuso e é mesmo...me vendo daqui de fora, percebo que continuo ali, só aguardando a chegada de mim mesma pra tomar e retomar o que é meu...o lugar...E pertencer a meu corpo, ser apenas eu mesma, como sempre fui.
Enquanto isso, esta aqui, que não pertence á lugar algum e que não sou eu, enquanto não volto ao meu lugar, vou vivendo e tentando fazer o que parece certo.
E tenho a impressão de que tentando acertar, erro sempre e o tempo todo e é como se fosse assistida por mim mesma, e recebo criticas minhas a todo momento. 
Cada erro, fico mais distante de tomar posse do meu lugar, voltar a mim mesma e e me sinto fora de mim, desconcertada, fora do mundo, fora de órbita! E cada vez mais.
Á cada erro, mantenho a distancia de tomar o meu lugar e já não consigo me enxergar como antes, isso quer dizer de que pra voltar a mim mesma vai demorar um pouco mais...Não tenho como voltar, não tenho quem me chame de volta nem quem me agarre pela mão, estou só pra me encontrar, se ao menos tivesse deixado algumas migalhas pelo chão, poderia ter traçado um caminho de volta.
Além de fora de mim sem previsão de volta, agora começo a sentir que estou me perdendo, não conseguir me ver, faz com que eu perca as referências de retomar o caminho...agora sinto que estou cada vez mais perdida, porque neste trajeto não vejo rostos conhecidos, estou sozinha e fica cada vez mais difícil achar meu lugar e me sentir em casa.
Tenho a impressão de que vou ter de me acostumar a viver assim, sem pertencer á mim, sem estar no meu lugar, não quero, assim deste jeito não vou terminar bem...Só queria  sentir que esta sou eu, me sentir em casa.
E eu que queria tanto viajar, sair daqui... acabei comprando uma passagem somente de ida pra fora de mim e agora não consigo retomar ao meu lugar, retomar minhas raízes, sentir que estou em casa...Será que vou ficar fora por mais quanto tempo?Temo não aguentar... É ruim ficar longe, daqui afasto á todos,  e me afasto cada vez mais de tudo que sou ou fui um dia, os dias ficam cada vez mais confusos e eu cada vez mais fora...de mim.
Cada vez mais perdida, cada vez mais fora de mim.


Um dia ruim.

Acordou querendo sair da cama, sair do quarto, sair de casa, sair da rua, sair de si.
Nem saiu da cama, achou que não haveria nenhuma roupa que combinasse, nenhuma cor, nenhuma estampa que acompanhasse o seu corpo aquele dia, melhor ficar com o pijama cinza.
E até quis ouvir uma música, mais não havia nenhum som no mundo que á embalasse ou fizesse querer levantar pra dançar e abrir as cortinas, mais nem queria tanto assim abrir as cortinas porque chovia lá fora...era tudo tão cinza, como a cor do seu pijama.
 E naquele dia, ela não queria nada tanto assim, nem ouvir o som... e nem havia som melhor que o som da chuva, que acompanhava o som do silêncio que fazia trilha sonora para um coração muito triste, que chorava, sangrava, se dilacerava .
Pensou que era bom o coração sangrar, o sangue sempre foi e sempre será vermelho, vermelho é melhor do que cinza e pulsa, se pulsa é vibrante e bate, então significa que ainda está vivo, o coração, a cor vermelha.
E se ainda está vivo pode sentir dor, amor, raiva...então pode sair de si, não saindo pra lugar nenhum, contanto que volte pra tentar melhorar as cores, o tom, o som...
Se misturou com as cobertas, se misturou na tristeza, se misturou com o som, com a cor e saiu de si, perdeu o tom, pra não sair na rua,  não sair da cama, pra poder voltar depois, quando cessasse a chuva, que aumentava cada vez mais e os pingos faziam no telhado, um barulho tão forte, que se misturava ao som do silêncio e ia ficando um som agradável, mesmo sendo um som triste...acalma...
E o quarto ficou tão escuro, tudo cinza e vermelho, tudo silencioso e ao mesmo tempo barulhento, tudo fora de si...como ela...pulsando, chorando, chovendo.
E tentava pensar que se algo pulsa ainda há uma chance, porque  está vivo e ainda pode tentar mudar, como o dia amanhã vai mudar, não continuará um tempo ruim é somente hoje, não será pra sempre.
Nada é pra sempre nem a chuva, nem a dor... aquilo tudo era só porque aquele dia, era um dia, de muitos outros...só um dia ruim.