Um beijo...

Quantas e tantas coisas me passaram na cabeça...

Nem sei por que, não devia estar pensando em nada, mas, pensava no que aquela pessoa pensava ao me beijar...Pensava, porque pensava tanto em tantas coisas quando só deveria, beijar.Não que o beijo estivesse ruim, mas, continuava a maquinar, na lição de casa, na faxina da casa, no casaco que esqueci de guardar.

Será que o beijo, tinha nele guardado uma válvula que me fizesse lembrar de todas as coisas que deixava de fazer ou em todos os lugares onde poderia estar? Mas, não, naquele momento estava ali, entregue me permitindo sentir o gosto de alguém e alguém sentindo o meu,eu nos braços e dando abraços, beijando, pensando...
Um beijo, um pensamento, já nem sei se eu estava mesmo beijando ou só pensando que beijava...

Felicidade Instantânea.

Sentada com o queixo apoiado nos joelhos, sendo iluminada por um faixo da luz do sol que adentrava a janela ao fim da tarde, a menina com uma cara entristecida, confessa a melhor amiga o desconforto que passara á volta do trabalho pra casa, ao encontrar um velho amigo seu, conhecedor de um passado, do qual nem se pegava a recordar..."Parecia ele estar a falar com outra pessoa que não fosse eu...Porque a medida que ia relatando as ocasiões, á mim, não parecia"... Sentindo não ser mas a mesma, com um certo saudosismo suspirou.


Deixa de ser boba, és a mesma pessoa, só lhe mudaram as atitudes, disse a amiga tentando confortar a outra.Você amadureceu, como todos que envelhecem.



Eu fazia tantas coisas erradas julgando certas, hoje faço tantas certas, corretas , mas ainda sim, sinto estar errando.Parece ter outra de mim, será que era feliz de verdade? Bem, pareceu-me fazer muito esforço pra ser... tantas loucuras, aventuras e romances superficiais, eu era mais divertida? Era louca de não me arrepender e estar sempre a repetir? Era egoísta por só fazer aquilo que me satisfazia, mesmo sabendo ser inconsequente de minha parte? Por que não me
aconselhou a ser menos impulsiva e mas responsável?
Porque não me repreendeste?Será que não via?


Porque, de nada adiantaria, não dava ouvidos a ninguém, disse a amiga em tom de ironia.Era uma menina e jovem, sendo jovens, temos o direito de errar, é assim que aprendemos.



Ele falou daqueles tempos e, eu me vi tão rebelde, impulsiva, cheguei a ser cruel por me amar tanto, porque fiz muitos sofrerem, pra me ver feliz! Disse a outra olhando nos olhos, tinha fome de viver cada segundo, sorriu ao lembrar dos devaneios cometidos pela outra, antes tinha gana de viver, uma pressa de chegar...Aproveitou cada época, cada tempo, cada beijo dado ou roubado, toda palavra teve uma ação, as atitudes uma reação, apenas viveste do modo que lhe julgava certo, porque lamenta e se envergonha?Disse a outra se aproximando e tocando-lhe os ombros.



Lamento, tinha fome de viver, talvez hoje não exista mais, a vergonha é de hoje me satisfazer das felicidades alheias, vivendo de migalhas, antes, se me viesse a tristeza, em três minutos fazia tudo para ser feliz, permitindo experimentar todo tipo de coisa, de gosto e de pessoas, como se estivesse a fazer miojo, três minutos para alimentar-me de vida, com um tempero de liberdade e emoção, riu brevemente... À amiga, carinhosamente á abraçou,igual miojo, felicidade instantânea, exclamou sorrindo ao lembrar-se do passado que a tanto tempo guardado estava.



A outra com os olhos tristes e já lacrimejantes, fixando o olhar para parede branca do quarto claro que, no momento transformou-se em escuro, respondeu com uma voz estremecida, falha, de quem não segurará o choro, melhor do que não ter fome de viver, não possuindo felicidade alguma, mas breve que possa parecer...E a lágrima caiu
.

ELA.

Ele sempre á traía, com todas as mulheres, mais, ou menos bonitas e interessantes que conhecia pelos bares, pelas ruas,pela noite, mas nunca permitia que fosse de outro.Ela acatava, obedecia.

Ele sempre á deixava, quando as lágrimas ainda escorriam de seu rosto, mesmo assim, sem nenhuma piedade, batia a porta, deixando saudade.Sempre ia embora, deixando na boca da amada o gosto de quero mais, amargo da noite que foi embora.E ela desejava que ainda não fosse dia, porque as noites é que ele preenchia a cama e , ela dormia sentindo seu cheiro até o sol apontar, não pregava os olhos pra aproveitar cada instante que a madrugada lhe dava!

Ela sempre o perdoava, seus pecados, erros que cometia e os que ainda nem havia cometido.

Estava disposta, sempre de portas abertas, porque sabia que ele sempre voltava, pra pedir ombro, pedir socorro das frustrações com que não conseguia lidar, ou talvez, só uma xícara de chá...Ela estava ali, pra quando ele quisesse voltar de onde?Nunca importava...

Só percebeu o quanto fazia falta, quando chegou em sua casa e a porta estava fechada a cadeado, quando ao procurar seu cheiro, sua face, sua mão pela cama, nunca esteve tão fria e vazia...Só sentiu-se perdido quando notou que não tinha mesmo para onde ir, nunca sentiu tanto abandono, tanta vontade de gritar, sufocado por estar sem ela, era estranho de pensar...

Só chorou , quando em seu túmulo deixou uma flor e descobriu que seu amor sempre foi dela e uma parte dele havia morrido também.Ali, estava enterrado uma, junto a seu corpo que ainda nem era tão frio, e a outra parte chorando por ela que á deixou sem bater a porta em um imenso vazio, que ela causava, agora mesmo sem querer...ela se foi.